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A música embala e todos os olhares se voltam para as modelos vestindo as obras criadas pelos seus estilistas. As luzes são fortes e, mesmo assim, não conseguem ofuscar o brilho de lantejoulas, saias esvoaçantes e sapatos de salto alto esculpidos. Esse é o universo da moda, dos desfiles e dos sonhos de jovens artistas que usam seus trabalhos para vestir o mundo.

 

O que passa despercebido por muitos é todo o trabalho que existe por trás das cortinas das passarelas. Aquele look que desfila durante poucos segundos em frente à plateia, teve mais do que meses de conceitualização, idealização, criação e aperfeiçoamento. Em linhas de mercado, por exemplo, as ideias já começam a ser discutidas até dois anos antes da previsão de lançamento.

 

Esse trabalho é ainda mais ardiloso para os jovens que estão tentando entrar nesse mundo (que não é pequeno) e precisam ter criações que sejam dignas de alavancar a sua assinatura. O problema é, principalmente, a falta de recursos, o que torna a ascensão ao status de estilista um desafio que vai além de criatividade e talento, porque não é só um desafio técnico, um novo estilista precisa ser um empreendedor artístico.

A jornada dos novos estilistas

DO TECIDO ÀS PASSARELAS

Concurso dos Novos Estilistas

Em cada edição do Dragão Fashion Brasil acontece o Concurso dos Novos. Há mais de uma década esse concurso dá oportunidade à alunos de diversas instituições de ensino superior e técnico de todo o país. Neste ano, 23 instituições foram selecionadas para a primeira etapa do concurso, mas apenas oito equipes passaram para etapa final: desfilar mini-coleções que saem das tradicionais primavera/verão, outono/inverno, que são conhecidas como coleções-cápsula durante o DFB 2018. Entre essas instituições selecionadas nós tínhamos três regiões do país representadas: Nordeste, Sudeste e Sul. Para representar o Nordeste estavam a Faculdade Ateneu e a Universidade Federal do Ceará (UFC), ambas do Ceará; o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte (IFRN); o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac), de Sergipe; e a Universidade Federal do Piauí (UFPI). Representando o Sudeste tínhamos a Faculdade Santa Marcelina, de São Paulo; e a Universidade Estácio de Sá, do Rio de Janeiro. A única representante da região Sul foi a Universidade do Estado de Santa Catarina.

 

O Concurso dos Novos aconteceu nos dias 11 e 12 de maio, nos dois respectivos dias cada equipe precisou desfilar suas coleções com o tema: pensar/fazer moda em 360º, seguindo todos os ângulos que constituem a cadeia têxtil, com destaque nos aspectos da economia circular. O grande desafio das equipes era expressar o conceito do concurso com apenas oito looks, que deveriam ser criados coletivamente. Para analisar o concurso, cinco pessoas ficaram responsáveis: a estilista Gisela Frank, que também teve sua coleção desfilada nas passarelas do DFB 2018; a criadora e designer da marca Catarina Mina, Celina Hissa; a jornalista do Diário do Nordeste, Gabriela Dourado; a jornalista do jornal O Povo, July Lourenço; e o diretor de criação do DFB Festival, Charles W.

 

O prêmio para quem vence o concurso é de R$ 10.000,00 em dinheiro e alguns troféus. Neste ano, quem levou a melhor foi a equipe do SENAC de Sergipe, que homenageou o artista plástico sergipano Arthur Bispo do Rosário e trouxe o empoderamento feminino e étnico. O segundo lugar ficou com a Universidade do Estado de Santa Catarina, que trouxe uma coleção com o misto da tradição dos pescadores e a modernidade que os turistas levam às praias de Florianópolis. Já o terceiro e último lugar, ficou com a Universidade Federal do Ceará (UFC), que levou à passarela uma coleção que falava sobre a relação durável com a roupa na sociedade.

“A gente sabia a proposta que queria levar, a gente apostou nessa linha estética e nesse conceito, fomos fiéis ao que estávamos propondo”, complementa Amanda Aguiar sobre a escolha do tema de sua equipe. Mesmo que grande parte do trabalho pudesse passar despercebido embaixo dos holofotes, continuaram crédulos da qualidade e do potencial de seus resultados. “O clima da competição me surpreendeu, não era pesado. A intenção de todo mundo ali era poder mostrar suas coleções que investiram com muito carinho. Foi muito bom”.

Amanda, Giovana, Kélvia e Ricciardo

Amanda, Giovana, Kélvia e Ricciardo, finalistas representantes da UFC. (Foto: DFHouse)

Em terceiro lugar do concurso, a equipe cearense disputou com uma série de looks minimalistas, o que foi o grande diferencial em comparação com as outras equipes do concurso. O grupo formado por quatro alunos da UFC conseguiu representar sua instituição e o seu estado chegando entre os finalistas.

 

Mesmo que almejando a vitória da competição, os jovens universitários deixam claro o orgulho e a gratificação que tiveram com as obras levadas às passarelas. “O forte da nossa coleção era a fabricação da roupa”, conta Ricciardo Gomes, o membro com mais experiência em eventos como esse. A equipe acredita que a aposta de sua coleção possa ter sido o que os distanciou do primeiro lugar. “Nossa coleção era rica em acabamento, caimento das peças, qualidade do tecido”, ele explica, ao mesmo tempo em que manifesta seu desejo que, nas próximas edições, houvesse uma maior aproximação dos juízes com as peças, para entender o processo de criação e os detalhes minuciosos, impossíveis serem julgados de tão longe.

 

“A experiência de ter tido a chance de participar desse concurso foi muito diferente de qualquer coisa que se pode esperar de dentro da faculdade”. Giovana Costa comenta sobre seu desejo de trabalhar a partir disso, mas na área da docência. “Eu pretendo seguir na área da moda, decidi esse ano, sendo professora. É uma área que nem todo mundo se interessa. Falta profissional que não fique preso só na faculdade, mas que procure ter experiências de fora para trazer para dentro”.

A Equipe Finalista Cearense

Não é apenas criação...

Para os estudantes de moda, que acabaram de chegar nesse novo mundo, a criação talvez seja o começo da realização de um sonho. Seja em um ateliê profissional ou da faculdade, o processo que mais requer dedicação é o que mais dá prazer para os futuros estilistas, como cita Ligia Nottingham. Ver suas peças prontas, em um manequim, é um dos momentos mais felizes para esses alunos que estão dando o seu melhor para construir uma futura carreira de sucesso e buscando aperfeiçoar tudo que é necessário.

O mercado da moda está o tempo todo se reinventando. É um mercado que nunca para. Sempre saem novos métodos de criação, de costura, de modo de vendas… O profissional precisa estar atento e disposto a acompanhar, sem deixar passar um detalhe sequer. Mas, adiante disso, no mundo do estilismo não é apenas criar uma peça e decidir qual o melhor tecido para a roupa que faz com que tudo esteja pronto. É preciso planejamento e muita dedicação. Pesquisas são de extrema importância para que todas as apostas sejam certeiras, segundo Breno Braga, estilista da marca Flee.

 

A criação autoral precisa atender não só às expectativas de quem vai adquirir, mas também ao próprio criador. O toque particular do estilista é essencial para fazer toda a diferença em suas peças, dando a peculiaridade necessária para que a roupa se torne atrativa aos olhos de quem, futuramente, vai comprar. A elaboração de cada detalhe vai muito além do que se pode imaginar e a pressa juntamente com a cobrança e autocrítica de alguns é o que faz com que a cada vestimenta o profissional supere o que o público costuma esperar.

 

No mundo real...

Novos estilistas são lançados no mercado à cada ano, um deles é Breno Braga, sócio e estilista da marca Flee, especialista em moda praia. A moda sempre foi sua primeira opção de curso a ser feito na faculdade. “Eu era bem pequeno e a gente já falava lá em casa, eu já desenhava, já sabia que ia enveredar pra moda e exatamente na parte da criação”. Como qualquer adolescente em seu último ano escolar que busca alternativas para sua vida adulta, o estilista até sentiu vontade de mudar o rumo e seguir para a gastronomia, ficou se questionando se a moda era realmente o curso da sua vida, mas logo se deu conta de que não se encaixaria em outro lugar. Ao sair do ensino médio, ingressou no curso de moda da Universidade Federal do Ceará, mas não permaneceu por muito tempo. “Quando eu entrei na UFC, percebi que o curso era completamente diferente do que eu imaginava. Não quis seguir carreira acadêmica e não terminei o curso, parei em 2015 e não terminei até hoje. Parei pra me dedicar exclusivamente ao trabalho.”

 

Breno foi contratado pela Flee, antes da marca se tornar conhecida, quando ainda se chamava Dune. No início, Breno tocava o estilo da marca com outras duas estilistas, os sócios apenas acompanhavam de longe. Mas, depois de um tempo na empresa, o estilista encontrou um problema: vários membros do time saíram, restando apenas ele como estilista e um dos sócios. Quando isso aconteceu, Breno foi promovido sócio da Flee e, a partir daí, os dois começaram a jornada de montar um novo time para uma nova marca. Depois de um ano, nasceu a Flee e o jovem estilista viu suas peças  pela primeira vez na passarela do Dragão Fashion Brasil.

 

A faculdade é uma das partes mais importantes da vida de todo profissional e muitos acreditam que, ao sair da universidade, você já saberá tudo o que é necessário para chegar ao mercado como um profissional completo. Mas, para Breno Braga, a academia ainda peca em muitos aspectos. “Ainda existe uma barreira muito grande na academia que impede que você forme estilistas realmente capacitados para o mercado de hoje”. Por ter, muitas vezes, como base as antigas tendências de mercado, as universidades repassam para seus alunos os mesmos conhecimentos de anos atrás. As grades curriculares são modificadas, mas elas nunca acompanham a velocidade em que o mercado se modifica, como destaca Breno. “Têm coisas do meu curso que, desde que eu saí, ainda estão lá. E, desde que eu saí, eu já vi o mercado mudar várias vezes”.

 

Todos os anos novos termos surgem, novas formas de vender, de criar e de fabricar. As universidades precisam acompanhar as tendências de mercado para conseguirem lançar bons profissionais, pessoas que entendem de coisas novas e que vão trazer novos ares para empresas que estão se mantendo no mercado há tanto tempo. Breno, por exemplo, chegou na Flee sem saber qual tipo de elástico, linha e fio deveriam ser usados para fazer um biquíni de boa qualidade. “A minha maior dificuldade como estilista [iniciante] foi a minha formação. Eu não consegui encontrar tudo o que eu precisava pra fazer o meu trabalho”.

 

Para Breno, é fundamental para um novo estilista não se acomodar. Aconselha que um bom estilista tem que saber como o produto vai ser vendido, como vai ser fabricado, quais artifícios de modelagem você vai usar, como que esse tecido é feito, onde é feito, como é transportado… Se o profissional da moda não entender como essa cadeia funciona, ele não conseguirá fazer nada plenamente. Por isso é importante para o designer de moda passar por todas os setores da moda possíveis, ter uma visão geral da área em que está se formando para que o aluno possa entender do que ele gosta mais e descobrir espaços onde acreditava não se encaixar, como ressaltou a coordenadora do curso de moda da Unifor, Ana Cláudia Farias: “É necessário, também, aproveitar todas as oportunidades para que eles possam mostrar o trabalho deles; buscar estágios e estagiar sem preconceito em qualquer área, porque às vezes a gente descobre que têm áreas que a gente pensava que não eram áreas interessantes para nós e acaba que a gente se descobre apaixonado naquilo”.

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Repórteres: David Saraiva

                     Mariana Romero

                     Anna Clara Mendes

Editora Chefe: Adriana Santiago

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